top of page

A oportunidade de ser vulnerável

É muito curioso como determinadas condições ao mesmo tempo que funcionam como importantes limitadores, se tornam excelentes oportunidades.



Vou começar falando um pouco da minha formação escolar. Felizmente estudei em um colégio federal com excelentes professores e com uma diversidade absurda de alunos e realidades. Lá desenvolvi a minha criticidade, a minha criatividade e o meu incômodo com o lugar comum. Grande parte do que sou vem de lá. Um exemplo disso foi quando uma professora da primeira fase da faculdade, ao me ouvir falar em sua aula de filosofia, imediatamente me perguntou se eu tinha estudado no Colégio de Aplicação. Ao responder que sim, ela abriu um sorriso e respondeu: deu pra perceber. Sabia o que ela queria dizer com aquilo. No colégio éramos convidados, e provocados, a pensar, a criticar, a relativizar o que estava nos livros e a tirar o próprio professor do lugar do saber.


Sou imensamente grata por essa formação, mas confesso que em muitos momentos essa criticidade me freiou. É consistente o bastante para eu levar adiante? Este e vários outros questionamentos pertinentes, porém carregados de uma pesada responsabilidade, me impediram em vários momentos de ser mais espontânea. E em outros, também me fizeram perder o timing.


É o tempo certo que diferencia algo inovador de uma possível cópia, um conteúdo relevante de um que seja mais do mesmo, uma empresa disruptiva de suas concorrentes. Mas que timing é esse? Desconfio que qualquer coisa nova que a gente faça se sentindo muito bem preparado, provavelmente é porque já perdemos o timing.


Já perdi algumas oportunidades pela minha auto exigência. Hoje eu enfrento e vou, mesmo com insegurança, junto com o consolo que só psicopatas não sentem medo. Mas confesso que ainda, nem sempre, esse é o impulso. A minha coragem vem da reflexão e de ponderações. Ela é impulsionada pela minha racionalidade, mas principalmente pelo meu autoconhecimento.


Através dele percebo que entre perder o timing e dar conta de fazer tudo num tempo quase que imediato à ideia existe uma distância. Assim como, entre o fazer e o deixar pra lá, tem a possibilidade de fazer da melhor forma possível diante do contexto e da capacidade que temos naquele momento. Esta tem se mostrado uma excelente saída para mim.


Deixar de lado as expectativas de perfeição me liberta para fazer as coisas de uma forma possível, e de quebra, aumenta as minhas chances de acertar o timing.


E isso tem tudo a ver com o que Brené Brown traz ao falar de vulnerabilidade. Professora e pesquisadora na Universidade de Houston, ela estuda há duas décadas a coragem, a vulnerabilidade, a vergonha e a empatia, e propõe que no final das contas, a necessidade de sermos aceitos e admirados, em vários momentos, nos impede de viver plenamente na arena da vida. A crítica e autocrítica constante e pressão do momento ideal são dois fatores que eu citei porque me pegam de cheio. Questiono se o meu incômodo pelo lugar comum não possa ser o meu medo de ser comum.


Quero ser mais vulnerável, primeiro porque é libertador não depender tanto das opiniões alheias, segundo porque vivi meus melhores momentos estando vulnerável, então, estatisticamente vale a pena correr esse risco.


Amo trabalhar com desenvolvimento humano, vivo o meu propósito de vida dando treinamentos, palestras, mentorias. E na arena, vivo o momento e esqueço as inseguranças, as expectativas, a necessidade de ser aceita. E por mais que eu planeje e estude, quando estou lá, a interação e a troca com as pessoas cria algo maior e diferente do que eu previ no conforto do meu escritório. E que bom! Vibro com isso. Fico extasiada também quando aprendo algo novo, quando escuto alguém ou leio algo que me gera insights e me mostra que eu sei muito pouco. É preciso estar vulnerável para abrir espaço para o novo, para o aprendizado.


Escrever também me faz muito bem, por mais que eu tenda a guardar para mim. Tenho uma necessidade gritante de assentar e organizar meus pensamentos na forma escrita, e geralmente o faço nas madrugadas, momento em que meus filhos dormem e em que a insônia bate por não ter conseguido fazer tudo que tinha me proposto durante o dia. Escrever me acalma e me empodera, mas publicar o que escrevi me dá frio na barriga.


Quero fazer da escrita mais uma exposição da minha vulnerabilidade. Tenho vontade de compartilhar insights, desabafos, conteúdos. Publicar este texto faz parte desse processo. Farei por mim, porque gosto, porque sinto que preciso. Sem muitas cobranças. Sem exigências. Pelo menos da minha parte. Faço para estar na arena da vida, para desafiar os meus limites, e quem sabe inspirar você a desafiar os seus.


20 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page